O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou, nesta terça-feira (10), ter incentivado os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e classificou como “malucos” os apoiadores que defendem intervenção militar e um novo AI-5. A declaração foi feita durante interrogatório na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no processo que investiga tentativa de golpe de Estado.
“Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas… que os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali”, afirmou o ex-presidente ao responder questionamentos do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet.
O AI-5 (Ato Institucional nº 5) foi o mais duro instrumento de repressão adotado durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), suspendendo garantias constitucionais, fechando o Congresso Nacional e institucionalizando a censura e a perseguição política.
Durante o depoimento, Bolsonaro insistiu que não teve qualquer participação nos atos que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Ele alegou que, ao contrário, fez uma live antes de viajar aos Estados Unidos pedindo que seus apoiadores evitassem o confronto e afirmou ter permanecido recluso no Palácio da Alvorada durante o período de transição.
“Se eu almejasse um caos no Brasil, era só ficar quieto. Mas eu fiz um vídeo pedindo a desobstrução das vias. Nós repudiamos tudo isso aí”, declarou Bolsonaro, negando ter estimulado ações ilegais.
Questionado sobre os acampamentos de apoiadores em frente a quartéis, onde eram feitas manifestações por uma intervenção militar com Bolsonaro no poder, o ex-presidente declarou que sempre buscou evitar o agravamento da situação. “Alguns poucos falavam até em AI-5. Eu chegava e perguntava: ‘Você sabe o que é isso?’ Eles nem sabiam. Intervenção militar? Isso não existe. É pedir pro senhor praticar o suicídio”, disse.
Ainda segundo Bolsonaro, a decisão de não desmobilizar os manifestantes teve como objetivo evitar um cenário ainda mais tenso. “Se nós desmobilizássemos aquilo, poderia o pessoal ir na região aqui da Praça dos Três Poderes, o que é pior ainda. [É melhor] ficar lá, afastado”, justificou.
O ex-presidente foi o sexto réu a prestar depoimento no processo que apura a tentativa de ruptura democrática no país após o resultado das eleições de 2022.