
No último sábado (19), um vídeo publicado nas redes sociais provocou grande repercussão em Igarapé-Miri, nordeste do Pará. Nas imagens, o pastor Wilckson Almeida Castro, ligado à Assembleia de Deus da Vila de Maiauatá, critica de forma direta a tradicional manifestação de fé católica dedicada à imagem de Sant’Ana, padroeira do município, durante o Círio anual — uma das mais antigas celebrações religiosas do estado.
No registro audiovisual, o pastor comenta a presença de fiéis durante a romaria e contesta a prática. “Vi muitos católicos ao redor de uma imagem de Sant’Ana. Eles creem nela, mas essa não é a nossa fé”, disse. Em tom de reprovação, ele comparou a santa a um deus que “tem boca, mas não fala; olhos, mas não vê”, afirmando esperar que “um dia o povo conheça a verdade”.
As falas do religioso foram duramente criticadas por membros da comunidade católica e autoridades religiosas. A Paróquia de Sant’Ana, pertencente à Diocese de Cametá, emitiu nota pública manifestando “profundo repúdio”, alegando que as declarações desrespeitam símbolos sagrados e violam os princípios constitucionais da liberdade de crença. A nota também alertou para o uso indevido da imagem de menores de idade do projeto social EMUPAS, que aparecem no vídeo sem autorização.
A Ordem dos Advogados do Brasil, subseção de Abaetetuba, também se posicionou na segunda-feira (21), classificando o conteúdo como potencialmente enquadrável na legislação que trata de crimes de intolerância religiosa (Lei nº 7.716/1989). A OAB solicitou que o Ministério Público do Estado e a Polícia Civil investiguem o caso. A entidade também destacou o valor histórico e cultural do Círio de Sant’Ana, que ultrapassa os limites da fé, representando a identidade de comunidades ribeirinhas da região.
A festividade, que remonta a 1714, atrai milhares de devotos em procissões por terra e por rio todos os anos no mês de julho. Além da dimensão espiritual, o evento tem papel importante na movimentação econômica do município, especialmente em setores como o turismo religioso, comércio informal e produção artesanal.
Até o momento, o pastor Wilckson Almeida não comentou o caso. A celebração segue com sua programação normal, enquanto lideranças religiosas e a sociedade civil reforçam o apelo por diálogo e respeito mútuo entre as diversas expressões de fé.


