
O pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder histórico da Assembleia de Deus em São Paulo (Confradesp), foi gravado durante uma Escola Bíblica de Obreiros (EBO) afirmando: “Por que preto, irmão? Preto é treva, rapaz. O capeta é que é preto. Jesus é luz.”
O vídeo circula nas redes desde o fim de semana e motivou críticas de fiéis e lideranças evangélicas negras, que classificaram a fala como racista. O contexto do pronunciamento era uma crítica a templos com paredes pretas e a uma estética de culto com iluminação baixa.
O que foi dito no púlpito
No discurso, José Wellington relaciona a cor preta à ideia de escuridão e “trevas” ao argumentar contra a adoção de paredes pretas em templos. Ele orienta pastores a trocarem a pintura:
“Chegue lá quando você voltar da escola bíblica […] compra uma lata de cal, uma [tinta] branca […] e pinta a parede de branca. […] Os nossos lugares de adoração a Deus devem ser pintados da cor mais clara possível. A iluminação seja melhor e o som melhor.”
O vídeo publicado pelo O Fuxico Gospel intercala a fala do pastor com um comentário crítico do apresentador, que questiona a associação entre “preto” e “capeta” e argumenta que a crítica à estética escura de alguns templos não exige o uso de expressões que racializam o argumento.
Izael recorda ainda outros episódios recentes de falas discriminatórias em ambientes religiosos e políticos, como o caso de um secretário municipal que se desculpou publicamente após dizer “negão, no escuro não te vi” durante um culto.
Nas redes, fiéis e ativistas apontaram que a expressão “preto é treva” reforça estereótipos raciais e hierarquias simbólicas que historicamente associam a cor preta ao mal e a cor branca ao bem. Para especialistas ouvidos por coletivos evangélicos negros, frases desse tipo perpetuam o racismo estrutural no espaço religioso ao naturalizar a cor preta como sinônimo de negatividade.
Nascimento também destacou no vídeo o contraste entre a fala e a realidade das igrejas:
“Os empregados dele são pretos, os pastores que servem a ele como seguranças e motoristas, boa parte deles são pretos. Por que então associar o preto ao capeta?” — questiona, ao defender que o debate sobre arquitetura e estética de culto não precisa recorrer a comparações racializadas.


