
Em um gesto incomum no atual cenário político, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) protagonizou um discurso que causou repercussão no plenário do Senado nesta semana. Ao lado do senador Marcos do Val (Podemos-ES), que protestava com uma fita na boca, Damares reconheceu publicamente que os alertas feitos por lideranças do PT e setores acadêmicos da USP sobre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estavam certos — e pediu desculpas em nome do campo conservador.
“Perdão, PT. Nós não acreditamos em vocês naquele momento. Hoje estamos pagando o preço”, declarou a senadora, ao afirmar que, na época da indicação de Moraes ao STF, os conservadores minimizaram os alertas de que ele poderia agir com autoritarismo. “Erramos. Mas os conservadores agora abriram os olhos. Vocês tinham razão, ele era um tirano”, completou.
O protesto ocorreu em frente ao Plenário do Senado, que teve suas atividades paralisadas devido à ocupação de parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em reação à prisão domiciliar decretada contra ele pelo ministro Moraes.
Críticas antigas que voltam à tona
Damares relembrou que, ainda em 2017, durante o processo de indicação de Moraes ao STF, diversas vozes progressistas alertaram para riscos de parcialidade e abuso de poder. A então senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) chegou a acusar Moraes de perseguir movimentos de oposição e questionou sua capacidade de atuar com isenção em julgamentos que envolvessem o Partido dos Trabalhadores.
O ex-deputado Jean Wyllys também se opôs à indicação, citando a atuação de Moraes como secretário de Segurança Pública em São Paulo e como ministro da Justiça no governo Temer. Já a Faculdade de Direito da USP, por meio do tradicional Centro Acadêmico XI de Agosto, encabeçou um manifesto contra sua nomeação ao STF, reunindo cerca de 280 mil assinaturas entregues em Brasília.
Apesar das manifestações, Moraes foi aprovado e nomeado ministro do Supremo, cargo no qual se tornou figura central em decisões envolvendo bolsonaristas, redes sociais e o processo democrático brasileiro.


